Prostitutas esperam clientes
depois no Bairro da Luz Vermelha em Amsterdã, em abril de 2017. HORACIO
VILLALOBOS CORBYS
Iniciativa da prefeitura permite
que 40 trabalhadoras definam seus preços, num país onde elas já pagam impostos
e têm seguridade social.
O Bairro da Luz Vermelha de
Amsterdã, conhecido pelas vitrines onde as prostitutas se oferecem, passou a
contar esta semana com o primeiro bordel administrado pelas próprias profissionais.
A Prefeitura lhes concedeu a autorização correspondente, e cerca de 40 mulheres
poderão se alternar nos 14 quartos do imóvel. Em vez de alugar cômodos de
comércios do ramo, cujos donos impõem preços e condições, elas pagarão ao redor
de 80 euros (272 reais) pelo turno da manhã – e o dobro durante a noite – para
a fundação Minha Luz Vermelha, auspiciada pela Prefeitura. Como autônomas,
serão donas de seu horário e contarão com um espaço comum vetado aos clientes.
A Holanda legalizou o comércio do sexo em 2000, e as prostitutas pagam impostos
e têm seguridade social.
As profissionais não dirigem
Minha Luz Vermelha, mas integram o conselho consultivo. Também participaram da
decoração e da distribuição do imóvel. A previsão é que haja maior ajuda mútua
ao compartilharem o espaço sem pressões. O prefeito, Eberhard van der Laan,
acredita que poderá “normalizar a ocupação delas” ao transformá-las em gestoras
de seu trabalho. Uma frase significativa, já que formalmente as prostitutas
holandesas há 17 anos têm direito às mesmas vantagens administrativas que a
população em geral. Mas o tabu sobre o trabalho impediu que sua vida melhorasse
como se esperava, e elas foram as primeiras a sofrer as consequências das
mudanças ocorridas em De Wallen – nome oficial do bairro.
Embora seja um dos principais
destinos turísticos da cidade, e portanto com maior presença policial, De
Wallen era um centro de lavagem de dinheiro e tráfico de pessoas em 2007. Havia
482 vitrines em uso, e a Prefeitura decidiu reduzi-las a 280. Para isso, foi
comprando os imóveis. Muitos donos tinham negócios obscuros, e ainda assim o
poder público lhes pagava para que abandonassem a zona. Isso aumentou o valor
do aluguel das janelas restantes, e as prostitutas tiveram que aceitar.
Inclusive continuavam pagando quando adoeciam ou não trabalhavam. Diante dessa
situação, as autoridades optaram por deixar abertas 351 vitrines e buscar
soluções como Minha Luz Vermelha. Mas os porta-vozes da fundação esclarecem que
“não se trata de um prostíbulo da Prefeitura”. “Fizemos o possível para a
iniciativa avançar e vamos supervisioná-la durante dois anos, nada além disso.”
O edifício escolhido tem a sua história, pois o dono era Charles Geerts –
conhecido como “o rei do pornô de Amsterdã”. Geerts obteve do município cerca
de 13 milhões de euros (44,2 milhões reais) pela venda desta e de outras casas.
Considerada uma start-up, Minha
Luz Vermelha contou com um empréstimo do banco Rabobank. Por sua vez, a
organização assistencial HVO-Querido ajuda as prostitutas a administrar a parte
financeira do negócio. Mas nem todo mundo aplaude a iniciativa. Felicia Anna
(nome fictício), uma romena que trabalha no bairro e escreve num dos blogs mais
conhecidos do setor, lamenta que ela e suas colegas não controlem totalmente o
prostíbulo. “Não havia ninguém entre nós que valesse a pena?”, questiona.
Também critica que “seja preciso avisar com uma semana de antecedência caso
alguém queira deixar o quarto, e só temos [as que participam do projeto] três
semanas de férias.”
A Prefeitura reconhece que não
resolveu os problemas da indústria do sexo e que o tráfico de pessoas não se
restringe a esse circuito. Mas considera uma oportunidade que as prostitutas
sejam, de certo modo, “donas do próprio negócio”.
Fonte: El Pais
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